Um estudo desenvolvido por cientistas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) identificou proteínas que podem indicar uma ligação entre o transtorno bipolar (TB) e comorbidades físicas, com implicações que podem acelerar o óbito do paciente. Este é o primeiro estudo a identificar essas proteínas, através de um exame de sangue de pacientes em vários estágios do TB.
O trabalho detectou essas proteínas em processos ligados ao metabolismo lipídico, ao sistema complemento e à cascata de coagulação – processos que, em desajuste, podem ocasionar doenças cardiovasculares, aterosclerose e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). As proteínas estavam aumentadas principalmente entre os pacientes que apresentam maior comprometimento funcional e cognitivo.
Estudos recentes mostraram que pessoas com bipolaridade têm risco duas vezes maior de morte prematura por doenças clínicas, quando comparados à população em geral. Eles podem ter a vida abreviada em nove anos, o que pode ser explicado pelo estilo de vida sedentário, tabagismo, consumo excessivo de álcool e exposição crônica ao estresse. Além disso, esses fatores de risco também levam a manifestações mais graves do transtorno. Pessoas obesas com transtorno bipolar apresentam maior risco de sintomas de humor mais graves, maior resistência ao tratamento e comprometimento cognitivo e funcional, por exemplo.
Uma das linhas de trabalho da professora Adriane Rosa, do Laboratório de Psiquiatria Molecular do HCPA, é encontrar marcadores biológicos que indiquem as manifestações físicas de transtornos psiquiátricos. Os pesquisadores acreditam que, ao integrar o cuidado das necessidades de saúde mental e física, o tratamento é mais eficaz. Para o coordenador do Laboratório, Flávio Kapczinski, achados como esse ressaltam a importância de modelos de cuidado integrado, que abordem as necessidades de saúde mental e física de pacientes com bipolaridade. “Abordagens de cuidado colaborativo envolvendo profissionais de saúde mental, médicos de atenção primária e especialistas em áreas médicas relevantes podem garantir o manejo holístico do transtorno e suas comorbidades associadas, melhorando os resultados para os pacientes”, afirma. Entre as medidas que podem ser adotadas estão o controle dos níveis de gordura, como colesterol e triglicerídeos, no sangue.
A pesquisa foi feita com dez portadores de transtorno bipolar e cinco indivíduos saudáveis. As amostras foram analisadas por um equipamento chamado espectrômetro de massa, utilizando técnicas da bioinformática. Em razão do tamanho da amostra, os pesquisadores sugerem mais estudos, feitos com uma população maior, por mais tempo e utilizando outras técnicas.
O artigo foi publicado na revista Trends in Psychiatry and Psycotheraphy. Os autores são Paola Rampelotto Ziani, Marco Antônio de Bastiani, Pietra Paiva Alves, Pedro Henrique da Rosa, Tainá Schons, Giovana Mezzomo, Ellen Scotton, Flávio Kapczinski e Adriane Ribeiro Rosa.
Fotos: Clovis Prates/HCPA
Fonte: HCPA
